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As crianças e o celular

O que uma criança pode ou não pode? Há limites? Quais são os limites?

crianças com smartphone

Observo que as crianças tem acesso livre aos conteúdos da internet, por celular, muitas vezes sozinhas ou mesmo na escola com seus colegas. Nós adultos, temos a dimensão do que isso significa?

Pedi a uma criança que listasse seus jogos preferidos. Alguns, muito interessantes, envolvem criar, cuidar, construir e alimentar. Mas encontrei outros muito estranhos. Um deles propõe aliviar o estresse torturando uma criatura que está presa por correntes. Um boneco de madeira, com feições humanas ou não, o jogador pode escolher. Quanto mais torturado, maior o número de pontos ganho e consequentemente, pode-se comprar armas mais poderosas. Outra criança mostrou-me um jogo em que para marcar pontos deveria roubar o maior número de bancos que fosse possível. Qual é o impacto de jogos assim, em uma mente infantil?

Vejo crianças acessando conteúdos que muitas vezes não são adequados à faixa etária em que se encontram. Os pais acreditam saber o que seus filhos veem na internet, mas eu me questiono se é humanamente possível, saber e controlar esse instrumento que é como fogo. Bem utilizado é responsável por grandes avanços da humanidade, mas livre, pode ser destruidor.

Os dois jogos descritos são bem simples e de acesso gratuito, muito fácil. Outros mais complexos são comprados pelos próprios pais para serem jogados em computadores e vídeo games. Nem por isso estão sob o olhar atento dos pais como deveria ser. Já vi muitos pais mostrarem-se surpresos ao contar-lhes qual é o conteúdo do jogo que está encantando seus filhos.

Crianças não possuem crítica suficientemente desenvolvida para fazer escolhas sobre conteúdos de internet ou jogos. Os adultos devem ser responsáveis por monitorar e considerar um limite de idade para o uso do celular. E cabe aos adultos uma reflexão que permita escolhas menos danosas. Por que uma criança de sete anos precisa de celular com internet? O que uma criança de dez anos gosta de ver no celular? Você sabe que seu filho de doze anos pode brincar de “Verdade ou Desafio” e enviar fotos sem roupa, em poses sensuais como resposta a um dos desafios?

Agora a moda é um aplicativo que permite enviar uma foto cuja exposição durará apenas alguns segundos, ou seja, aparentemente não deixará provas do que foi feito. Como devemos saber, nada no meio virtual é confiável. Mas uma criança fica totalmente vulnerável a esses aplicativos que parecem inocentes e divertidos.

Embora o ambiente não seja determinante na formação da personalidade, sabe-se que é um componente importante. Que ambiente oferecemos a essas crianças que ficam à mercê de brincar com fogo, sem nenhum conhecimento dos riscos?
Experimentei uma sensação desagradável ao brincar com o jogo que propõe tortura para aliviar o estresse, mas meu parceiro de jogo, de apenas dez anos, não viu mal algum. Em outro jogo, um homem arranca alguém de dentro de um carro e sai em disparada no carro roubado. Será que o objetivo é banalizar a violência? Vi na televisão um homem fazendo algo parecido, no telejornal, na hora do almoço. Esse é o ambiente que oferecemos as nossas crianças. A função do jogo é prepará-las para um mundo sem respeito, sem regras e limites, onde vale tudo?

É preciso atenção e reflexão. O celular é apenas um recurso. É cada vez mais comum perceber que até os adultos sentem dificuldades em estabelecer limites quanto ao uso, para si mesmos. Hoje é comum ver adultos acompanhados de crianças, no entanto, atentos às redes sociais e emails. Pessoas sofrem acidentes por se distraírem com o celular. Se os adultos estão se deixando seduzir pela tecnologia, como estabelecer limites com as crianças?

As respostas para muitas dessas questões precisam ser construídas dentro do ambiente familiar. Cabe a família refletir sobre a forma como esse instrumento tão rico em possibilidades, pode ser utilizado sem gerar problemas. Para isso, é importante ter regras claras, bem comunicadas e combinados com consequências, caso haja descumprimento. Buscar orientação profissional sempre pode ajudar a evitar dificuldades como cyberbullying, pedofilia, invasão de privacidade entre outros riscos para as crianças.

Sobre Eliane Cardoso

e-mail CRP 06/75282 Psicóloga formada pela UniFMU, na área clínica. Realiza atendimentos a crianças, adolescentes, adultos e casais. Especialista em Orientação Vocacional/ Profissional. Atua em orientação a pais e familiares. Professora especialista em alfabetização com mais de 20 anos de experiência. Palestrante sobre temas como: “Comunicação entre pais e filhos”, “Sexualidade”, “Casamento e comunicação” e “Bullying”.