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Gravidez na adolescência

Este artigo é o resultado de minha primeira elaboração acerca do tema gravidez na adolescência. Pesquisei, li, reli, procurei por trabalhos que me trouxessem a oportunidade de perceber e repensar sobre a gravidez na adolescência, suas implicações, os valores culturais que podem levar a ilegitimidade da gravidez adolescente, como os jovens lidam com mudanças de papéis, corporais, psíquicas e sociais, de que forma contam a gravidez aos pais e como estes reagem, e, finalmente, se os parceiros também “engravidam” e de que forma assumem ou não uma paternidade.

Gravidez na adolescência
A cada ano cerca de um milhão de adolescentes engravidam no Brasil. Hospitais desenvolvem programas para adolescentes entre 10 e 19 anos, responsáveis por 26% dos partos no SUS. Hoje no Brasil, uma em cada 10 mulheres de 15 a 19 anos já tem dois filhos. Na faixa dos 19 anos, uma em três já tem um filho ou está grávida. Pesquisa feita com adolescentes no Hospital da Clínicas – SP, detectou que uma parte expressiva queria mesmo engravidar.

Muitas adolescentes grávidas vêem sua vida mudar completamente e não se sentem preparadas para isso. Não é nada fácil, de uma hora para outra, deixar o papel de filha para se transformar em mãe. Outra questão é a relação com os pais. Nem sempre eles são tão compreensivos. A “culpa” por ter traído a confiança dos pais – seja real ou não – e o medo de perder o afeto dos dois fazem com que a adolescente se sinta desamparada e cheia de conflitos.

Outras vezes, o receio é a perda do namorado. Com medo das responsabilidades e de ver o seu futuro ameaçado por um bebê que não estava no programa, alguns garotos acham melhor pular fora e deixar todo o encargo e responsabilidade por conta da menina. Muitas adolescente acham que, só pelo fato de estarem grávidas, vão perder todos os encantos. No fundo, existe dificuldade em se reconhecer naquele corpo que está ganhando novas formas. Por mais forte que seja a adolescente, é muito difícil não se deixar abalar psicologicamente.Algumas delas encontram dificuldades em continuarem estudando.

Muitas desistem antes mesmo de ter o bebê. Nesse ponto, o sonho de fazer uma faculdade e ter uma carreira, fica aguardando uma oportunidade futura para ser realizado.Uma parte das adolescentes, acaba se casando antes do bebê nascer e o que poderia parecer a realização de um sonho, acaba ficando complicado. Segundo as estatísticas, a maioria desses casamentos prematuros terminam depois de três anos de existência. As contas no final do mês, a falta de oportunidade de se divertir e mais o trabalho natural que toda a criança dá, ajudam o casal a entender, finalmente, que brincar de casinha é bem diferente na vida real. A gravidez na adolescência pode ser bastante conflitante e dolorosa para todos os envolvidos no processo, tanto os adolescentes (menina e menino) quanto suas famílias, se não estiverem preparados para isso.

Considerando essa complexidade dos processos envolvidos na gestação da adolescente, arrisco dizer que o atendimento de saúde deve ter uma perspectiva de trabalho visando um atendimento mais integrado e global, permitindo lidar com as variáveis de risco dessa população: os fatores bio-psico-sociais.

Os objetivos do atendimento seriam: a promoção da maternidade e paternidade e o fornecimento de subsídios à família para enfrentar a questão.

Com as adolescentes e/ou casal, penso que deve-se priorizar a saúde, desenvolver a maternidade e a paternidade, bem como a identidade de cada membro do casal, trabalhando com as emoções e o esquema corporal. Com as famílias, deve-se pensar em grupos de orientação, em que fossem trabalhadas as questões sobre o controle versus autonomia e independência, ponderando as decisões e se investigando as alternativas de ação.

Devemos enxergar a adolescente grávida como um indivíduo único, com diferentes sensações e sentimentos. Podemos crer que a adolescente, ao mesmo tempo que se considera adulta para ter uma vida sexual é uma criança para fazer a maternagem.

Essa distinção me parece fundamental, para que com sensibilidade, possamos auxiliar no crescimento e auto-conhecimento dessas jovens, o que, para mim, representa o próprio exercício da profissão de psicólogo.

Publicado em RedePsi

Sobre Patrícia Ignácio Barreto

e-mail CRP 06/73625 Psicóloga formada pela UniFMU. Especialista em Psicologia Clínica pelo Hospital do Servidor Publico Estadual. Especialista em Dependência Química pela UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo. Atendimentos no consultório em psicoterapia a crianças, adolescentes e adultos, avaliação psicológica e orientação a pais.