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O adolescer e o uso de drogas

Vários estudiosos dizem que a adolescência é a fase que vem depois da infância e antes da juventude. Chegam a afirmar que a adolescência começa por volta dos doze anos e termina por volta dos dezoito. O fato é que não há um critério claro para definir a fase que vai da puberdade até a idade adulta, bem como, não há na cultura ocidental um ritual único de passagem que marca o período de transição da infância para a fase adulta. O que há de concordância quanto a esta etapa do desenvolvimento humano, é que nesse período ocorrem inúmeras transformações físicas, psicológicas e sociais significativas para a vida do indivíduo.

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As transformações corporais constituem uma das mudanças primordiais da adolescência. É nesse momento, que o indivíduo se vê obrigado a assistir passivamente a uma série de mudanças em seu corpo e, por conseguinte, em seu jeito de ser. Frente a essa transformação, desejada por um lado e por outro vivida como uma ameaça, o adolescente, frequentemente se depara com dificuldades emocionais para lidar com sua realidade.

As alterações de humor, por consequência das variações hormonais também estão presentes nessa fase de desenvolvimento. O corpo atinge a maturidade sexual. No entanto, são os fatores psicossociais que determinarão o momento de inicio da vida sexual. Um estudo que acompanhou quase três mil estudantes de distritos urbanos de New Jersey (EUA) mostrou que o início precoce do comportamento sexual ocorreu em associação com o uso de álcool e outras drogas e com o contexto destes estudantes terem valores liberais ou amigos mais liberais quanto a vida sexual.

Outro aspecto de extrema importância da maturidade física, está relacionado as modificações no sistema nervoso central (SNC). Na adolescência o cérebro encontra-se imaturo para processar a complexidade de algumas escolhas importantes, pois alguns mecanismos cerebrais associados ao processo de tomada de decisão encontram-se em desenvolvimento. Tal limitação é caracterizada pela imaturidade do sistema de controle inibitório, podendo predispor o adolescente a escolhas impulsivas e comportamentos de risco a sua integridade física e emocional.

Vale acrescentar, que o sistema cerebral acima citado nomeado sistema de recompensa, é o mesmo acionado pelas substâncias psicoativas. Dessa forma, o uso de drogas pelo adolescente pode acelerar mudanças neurais que são próprias da dependência química, deixando-o ainda mais vulnerável e impulsivo.

Quanto as mudanças psicossociais, é na adolescência que o indivíduo vai se deparar com desafios como estruturação de sua identidade, consolidação de valores e princípios, busca de novas referências além da família e a necessidade em assumir novas responsabilidades. Durante a construção de sua identidade, a família deixa de ser a única referência do adolescente e a identificação com novos pares e/ou grupos auxiliam nesse processo de organização da identidade.

Neste cenário de inúmeras mudanças e transformações físicas, individuais e sociais, os adolescentes constituem uma população de risco em relação ao uso de substâncias psicoativas. Com mais autonomia e liberdade para novas experiências, o adolescer implica em confrontar-se com decisões relacionadas à moral individual e social, a religiosidade e as expectativas familiares, culturais e sociais.

Desta forma, um desenvolvimento psicossocial saudável está relacionado à interação bem sucedida do indivíduo com a família, amigos, escola, comunidade, outras esferas sociais e com o ambiente. São estes os aspectos que devem ser estudados, explorados e trabalhados para se compreender e prevenir quanto a vulnerabilidade do adolescente ao uso, abuso e dependência de álcool e/ou outras drogas. Portanto, a questão principal não refere-se a droga em si, mas no papel que a substância assume na vida  do adolescente.

 

Referência Bibliográfica

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OUTEIRAL J.O. Adolescer: Estudos sobre a adolescência. Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 1994

Sobre Patrícia Ignácio Barreto

e-mail CRP 06/73625 Psicóloga formada pela UniFMU. Especialista em Psicologia Clínica pelo Hospital do Servidor Publico Estadual. Especialista em Dependência Química pela UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo. Atendimentos no consultório em psicoterapia a crianças, adolescentes e adultos, avaliação psicológica e orientação a pais.